Só vejo Passado e o hipotético Futuro transborda-me. É excessivo. É abusivamente irreal. É a doce dor inerente à cura da ressaca do dependente.
Preciso da praia que fizemos nossa. A areia tinha caranguejos que te mordiam a ponta do lábio superior. As ondinhas do mar batiam no meu ombro esquerdo, salpicando-me de beijos frescos. Aconchegámos a nossa cabana num forte e teso abraço. Há tanto que havíamos descoberto o Mundo. Usava da tua tripulação para alcançar novos territórios no além-mar, sem nunca me ter apercebido que o meu horizonte era o teu sorriso.
Içamos as velas de novo. Sussurramos ao vento o que a alma não quer… Um dia, talvez, me volte a faltar o Presente.
“Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim, que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedirem de pensar.” In Fazes-me falta, Inês Pedrosa
HOJE, SÓ POR SER OUTONO, VOU CHAMAR-TE "MEU AMOR” CONTRA AS REGRAS DO QUE SOMOS, VOU CHAMAR-TE “MEU AMOR"
Estagnei. O vento não se sentia na pele, mas num interior que desconhecia. Era oco e o eco nele abanava o Mundo, numa miscelânea de medos agudos.
Quem era a “borboleta” deste efeito?
A voz doce penetrou-me tão fundo, tão para lá do que quero do Mundo. A mística sensual, sapiente do poeta apaixonado faz de mim fumo, leve e cinzento, em rodopios tontos. A barba forte, a veia dilatada, a simplicidade do quarto, os livros, os lençóis amarrotados, a vida entre quatro paredes. Esquartejou em algumas frases o meu presente. Tornou o meu singular, nosso plural em voz a solo. Pingavam lágrimas azedas no interior, mas, subitamente, tive vontade de sorrir.
Oito da noite. O ipod voltava a soletrar a mesma vida. A noite cantava com ele. Palavras e momentos desconexos. Constantes e convictas negações. E tudo isso, tudo isso que a noite me sussurra, é entre mim e o teu imaginário…
O Jogo
“Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou
Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor
És tu quem quer
Sou eu quem não quer ver que o tudo é tão maior
Aqui está frio demais para apostar em mim.
Vê que a noite pode ser tão pouco como nós
Neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós
És tu quem quer
Mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi
Que aqui está frio demais para me sentir... mas queres
ficar?
Queres levar
Tudo o que é meu
É tudo o que eu
Não sei largar
Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!
Vem que a água vai lavar o que me dói! Vem que nem o último a cair vai perder.”
P.S- Não fosse o poeta mais do que dono da razão, mas da acção em si…
18 "OUTONOS":
EUFÓRICOS OU CHORÕES,
INFANTIS OU REPLETOS DE PENSAMENTOS,
ARTÍSTICOS OU VAZIOS,
LUMINOSOS OU OBSCUROS,
MUSICAIS OU SILENCIOSOS,
COLORIDOS OU EM TONS SÉPIA...
ENFIM, INCONSTANTES.