segunda-feira, março 31, 2008

As vezes que te afasto da cabeceira

As vezes que te afasto da minha cabeceira são por te querer perto. Digo-te que voes, leves daqui as certezas que não quero minhas.

Às vezes, sem pedir, imploro para que me faças soar as badaladas palavras na ponta do lábio inferior.
Viro o incompleto e transbordante corpo incomodado.
Sinto o veludo escarlate da tua boca ferir-me. Beijas-me incessantemente o lado esquerdo da alma, e cada poro da minha pele descoberta mergulha na tua doce calma arrepiante.
Perco a cabeça no contorno forte dessas mãos que não sei pintar, que me esculpem o corpo que não tenho.
Engoles-me no teu abraço e deixas-me ficar em ti, ouvindo o sincronismo das nossas pulsações.
Sentia-te respirar no meu cabelo, percorrer-me a orelha. Agarraste-me num repente tenso a anca e o teu corpo pediu liberdade. Aí fiquei contigo.
E hoje sem ti, e contigo mais que nunca, nestas noites em que os frios lençóis absorvem o teu calor que vem de mim, nestas noites em que o sonho se desvanece numa manhã azeda, dói-me a tua presença vazia no meu colchão. Dói-me as saudades que não tens. Dói o nosso presente que teima em não chegar. Dói-me tão imensamente a segurança irreal que as tuas mãos nas minhas me dão. Dói-me a grande parte de mim que não sou eu. "Dóis-me" tu!

2 comentários:

Rach disse...

"e hoje sem ti, e contigo mais do que nunca"

esta doeu-me a mim!

ph disse...

gosto dos contra sentidos que as tuas letrinhas oferecem.